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Lutas de Classes no Sul Fluminense

A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), ainda hoje a maior indústria siderúrgica da América Latina, foi criada no governo Vargas em 1941. Sua principal unidade de produção, a Usina Presidente Vargas, situa-se na cidade de Volta Redonda, no sul do estado do Rio de Janeiro. Tendo a usina como seu centro de gravidade, Volta Redonda foi planejada pensando as demandas da grande fábrica, tornando-a uma típica cidade operária onde o espaço urbano e o mundo do trabalho se encontram intimamente conectados.

Na esteira da ascensão do movimento operário iniciado no ABC paulista nos anos 1970, desloca-se para Volta Redonda nos anos 1980 o centro da luta de classes no país. O movimento grevista da cidade do aço, iniciado em 1984, culmina na grande greve de 1988 (que teve três operários mortos devido à repressão militar). Neste momento histórico, o Brasil testemunhou, ainda que por um breve instante, o que significa uma dualidade de poder. Por um breve período, Volta Redonda experimentou em embrião a formação de um poder operário. A greve dos operários ultrapassou a barreira do corporativismo e tornou-se uma greve da cidade inteira. As assembleias adquiriram um nítido caráter de poder. Não se ouvia mais a Câmara, não se ouvia mais falar do prefeito; o juiz fugiu. Todas as grandes decisões (de como conduzir a greve, de como a população se portaria, de como deveriam ser organizados os bairros, os estudantes, etc.) eram decisões tomadas em assembleias de até 40 mil trabalhadores. Durante essa greve, os trabalhadores ditaram o ritmo da cidade colocando a reboque de si o Estado burguês.

Findado o ciclo grevista da cidade do aço em 1990, a burguesia não hesitou em trabalhar para quebrar a organização do sindicato e extirpar da memória dos operários essa experiência. De lá para cá, a CSN foi privatizada e as direções sindicais cooptadas. Entre outras entregas, a atual direção do sindicato dos metalúrgicos foi responsável pela volta do turno de 8 horas, revertendo a conquista do turno de 6 horas, uma das bandeiras da greve de 1988. Essa direção, que teve suas eleições caçadas por três vezes (2010, 2014 e 2018), e que ainda assim detém ilegalmente a administração do sindicato, funciona hoje como correia de transmissão dos interesses dos capitalistas da CSN.

Totalmente desaparecida das portas da fábrica, e coniventes com ameaças e coações da CSN aos operários, a direção pelega do Sindmetal-SF foi responsável recentemente por conduzir a negociação de um acordo coletivo que resultou em reajuste zero no salário dos operários por dois anos, na troca do plano de saúde para um de cobertura muito menor, num abono/PPR miserável, e na exclusão dos demitidos do abono de 2019.

A mais recente traição foi a antecipação do acordo do turno de 8 horas (que apenas se daria em novembro). Com as eleições batendo à porta, a direção convocou a toque de caixa uma assembleia virtual fraudulenta (já questionada pelo MPT) para discutir o acordo de turno benéfico apenas à empresa. Assim, a atual direção rivaliza com poucas em seu entreguismo e subserviência aos interesses dos capitalistas que lucram com a CSN – o lucro líquido do 4º semestre de 2020 (R$ 4,239 bilhões) foi quase o dobro de 2019 (R$ 2,245 bilhões).

Contudo, o tempo da atual direção está chegando ao fim. A nova comissão eleitoral, que será fiscalizada pelo MPT, já está em processo de formação. As eleições ocorrerão este ano, e diante de uma direção totalmente desmoralizada, há grandes possibilidades de haver uma mudança de ventos no movimento operário do estado do Rio.

Hoje, os operários de Volta Redonda e região possuem uma oportunidade histórica. Sob a liderança da Oposição Metalúrgica-SF, pretendem resgatar o segundo maior sindicato metalúrgico do país para as mãos dos trabalhadores e, assim, retomar o protagonismo do Sul Fluminense nas lutas de classes do país. A conquista do Sindmetal-SF está na ordem do dia, e todas as forças de esquerda que tem na luta de classes o centro de sua atuação prática tem o dever de conhecer, divulgar e apoiar a luta dos operários do Sul Fluminense.

É inconcebível uma estratégia revolucionária que não seja centrada na vanguarda operária da classe trabalhadora. E o operariado do polo industrial do sul do estado do Rio de Janeiro é um setor estratégico da classe na luta contra a burguesia em âmbito nacional. É impensável, portanto, um movimento revolucionário no Brasil sem que os operários de Volta Redonda e região façam parte da sua vanguarda.

Por isso, a Centralidade do Trabalho oferece seu total apoio à luta dos operários do Sul Fluminense.

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