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Crítica à esquerda pós-moderna

A pós-modernidade se apresenta como uma teoria crítica. No entanto, como não apresenta alternativa concreta de futuro para as lutas econômico-políticas para além do capital, resulta socialmente numa crítica regressiva, pois articula narrativas e discursos fragmentados que, de forma platônica, chegam a apresentar-se como radicais, mas ao fim e ao cabo estão irremediavelmente acoplados a uma construção teórica contrarrevolucionária. Isso tem, via de regra, confundido as forças de esquerda, tornando-as incapazes de apresentar saídas para a construção da efetiva emancipação da classe trabalhadora.

O resgate do papel da centralidade de classe e da centralidade do trabalho é fundamental para a eficácia teórica e prática das lutas atuais de esquerda, especialmente a esquerda que não deseja apenas mudanças, mas efetivamente a transformação social revolucionária, pautando a transição socialista. Com isso, a radicalidade política torna-se uma necessidade premente no mundo contemporâneo. Mas essa radicalidade não deve se apresentar apenas por uma linguagem radical, no plano do discurso, e pela valorização incondicional do lugar que a fala ocupa. Ser radical é tomar as coisas pela raiz. Não significa apenas ter uma atitude individual de rebeldia ou de transgressão diante das opressões do mundo contemporâneo. Significa, em primeiro lugar, compreender a posição ocupada na luta de classes e na exploração daí decorrente.

Priorizar qualitativamente a relação de exploração à de opressão não significa afirmar que não existem opressões diferenciadas no seio da classe; não significa priorizar o sofrimento derivado da posição de classe em detrimento do sofrimento derivado das opressões. Significa apenas tomar a luta de classes como o fundamento central para a compreensão da realidade social sob o capitalismo e, por consequência, para uma estratégia verdadeiramente revolucionária que vise a derrubada da supremacia burguesa; estratégia em função da qual todas as demais lutas devem ser taticamente consideradas. A exploração engloba e abarca as formas de opressão. Por isso, essas duas dimensões podem (e devem) ser tratadas numa articulação dialética.

O problema da lógica pós-moderna está na (falta de) solução que essa teoria irracionalista preconiza: “é impossível atacar o centro, mas atuar apenas nas margens do sistema”. Essa é a máxima pós-moderna. As lutas pelas causas oriundas das opressões são reais, concretas, verdadeiras. São, enfim, dimensões históricas da vida humana alienada no capitalismo. Portanto, a teoria que tem como objetivo a crítica da crítica regressiva pós-moderna, não deixa de tratar dos problemas reais ali indicados. Mas uma tal teoria precisa assumir o ponto de vista da totalidade e, sob a regência do capital (e para combatê-lo), a teoria que tem condições de realizá-lo não é outra senão o marxismo.

A pergunta que a esquerda tem que fazer hoje é: a que classe social interessa defender que não existe verdade objetiva e que é impossível uma compreensão racional do mundo, em sua totalidade? A que classe social interessa afirmar (ideologicamente) que não é possível atacar o centro do sistema, estabelecendo o limite de atuação dos sujeitos múltiplos apenas nas margens descentradas e aleatórias desse mesmo sistema? Com certeza, isso não interessa às classes trabalhadoras submetidas à brutal exploração do capitalismo.

Por isso, as teorias pós-modernas constituem uma das dimensões mais gritantes da contrarrevolução ideológica burguesa, cujo resultado político e prático redunda, no máximo, numa transgressão resignada que propõe uma atitude de suposta radicalidade sonora, mas repele por completo qualquer indicativo de ruptura revolucionária de classe.

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