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O custo da magia: Florianópolis possui a cesta básica mais cara do país

Conhecida como a capital da vida saudável, Florianópolis consegue falsear sua realidade atrás das propagandas de suas belezas naturais e experiências de luxo. A realidade da “ilha da magia”, entretanto, está para muito além de seus restaurantes e drinks na beira mar. Possuindo atualmente a cesta básica mais cara do Brasil, Florianópolis ultrapassou os altos preços de capitais como Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro. 

Os dados recentes do DIEESE revelam o aumento das cestas básicas em todo o país, onde a capital de Santa Catarina ocupa a posição da cesta mais cara do país custando R$645,00.  O aumento da carne, leite, arroz, feijão e óleo variou entre 30% e 65% em todo o país. Em Florianópolis, o quilo da carne aumentou em 5,19%, e itens como manteiga e leite aumentaram em 3,31%. Além do aumento de custo de alimentos como arroz e feijão. Os itens que mais aumentaram seu custo são justamente os alimentos básicos da dieta dos trabalhadores brasileiros e os mais indicados para uma alimentação decente de acordo com o Guia Alimentar da População Brasileira.

Esse aumento do preço dos alimentos afeta especialmente a classe trabalhadora. Diante de trabalhos precarizados e baixos salários, ela vê afetada a área mais básica de suas vidas e se vê submetida a uma alimentação deficitária em que alimentos básicos acabam distantes da sua mesa. Isso afasta trabalhadores e trabalhadoras da ilha, e de todo o país, de uma alimentação digna e os empurra para os produtos baratos oferecidos pela grande indústria alimentícia de baixa qualidade nutricional. Vai-se o arroz, o feijão e o peixe. Entram os ultraprocessados. Essa condição que submete a classe trabalhadora a uma alimentação empobrecida tem como consequência um adoecimento físico e mental generalizado, a curto e longo prazo, e que soma a vulnerabilidade colocada por uma crise sanitária e a exaustão do aumento das jornadas de trabalho. 

O custo da cesta se soma ao alto custo do aluguel que é, em média, cerca de R$1,200 na capital catarinense. Isso em um momento de crise sanitária e econômica em todo o país, onde o salário mínimo atual é de R$1,100, muito distante dos R$5.421 apontados pelo DIEESE como o salário mínimo necessário.

Assim, a beleza da capital se torna uma fachada para esconder a feiúra de suas entranhas. A miséria e a insegurança alimentar que em 2021 atingiu mais de 120 milhões de brasileiros e recolocou o Brasil no mapa da fome não está longe da ‘suíça’ brasileira. A miséria a qual o alto custo de vida condena a classe trabalhadora expressa justamente o enriquecimento de sua burguesia que segue gozando de renúncias fiscais e aumentando a especulação imobiliária e a destruição ambiental em toda a ilha. Com um dos metros quadrados mais caros e a cesta básica mais custosa, não é também uma coincidência que trabalhadores e trabalhadoras se vejam expulsos da ilha, morando nas cidades vizinhas, distante do trabalho e encarando horas de ônibus diárias, em plena pandemia, para poder trabalhar e sobreviver. 

Isso, quando há emprego. O alto custo da alimentação se mistura ao abismo social e econômico. Santa Catarina registrou 5,3% no aumento do desemprego no último trimestre, e 220 mil postos de trabalho perdidos em 2020. Embora tenha sido eleito recentemente o melhor estado do país para se viver, o estado catarinense não foi exceção na expansiva degradação das condições de vida observadas a nível nacional. Santa Catarina também se viu afetada pela elevação do desemprego, a estagnação da renda e a aceleração do desmonte dos serviços públicos e do que restou do sistema de proteção social. Isso aprofunda o cenário de miséria no estado que já em 2017 contava com cerca de 330 mil domicílios em condição de insegurança alimentar.  

E apesar do cenário que afunda cada vez mais a classe trabalhadora em miséria, há pouca reação da esquerda catarinense em conseguir denunciar e atacar seus causadores. O aumento do custo dos alimentos, o valor absurdo da cesta básica e a destruição das condições não se desvincula do aumento exponencial da fronteira agrícola da agroindústria em Santa Catarina ou do aumento dos monopólios em todo o estado. As poucas ‘soluções’, vindas mesmo dos partidos de esquerda, se misturam a lógicas eleitoreiras que pouco conseguem dialogar com a massa trabalhadora que, como mostrou em 2018, tende a acreditar em ‘mudar tudo que está aí’. E não por uma lógica fascista, como parte da esquerda insiste em afirmar, mas, por uma lógica pragmática de trabalhadores e trabalhadoras que viram suas condições de vida destruídas rapidamente e estão consumidos na rotina adoecedora de indústria e/ou serviços, em acentuados turnos de trabalho. O ‘conservadorismo’ catarinense está diretamente relacionado à precariedade da condição de vida do trabalhador médio e um ódio de classe mal direcionado e instrumentalizado pela burguesia do estado. 

Com a fome batendo na porta e a miséria invadindo as casas, a tarefa mais básica a ser discutida é a organização de uma luta capaz de trazer horizonte e perspectiva para a classe trabalhadora. É preciso denunciar o antagonismo inconciliável entre trabalhadores e capitalistas, e tematizar a necessidade da classe trabalhadora, diante das inexoráveis lutas contra a exploração capitalista, organizar-se enquanto partido revolucionário. A assim chamada ilha da magia precisa compartilhar sua mágica para muito além de sua burguesia bem alimentada. E se a fome volta a rondar a vida de trabalhadores e trabalhadoras é preciso apontar que, para expulsá-la de suas soleiras, apenas a luta organizada pelo comunismo oferece uma saída real da miséria típica de um sistema capitalista.

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