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Desemprego: Atividade essencial

O IBGE divulgou na última semana dois dados aparentemente contraditórios, mas que dizem muito sobre as tendências recentes do capitalismo brasileiro. Primeiro, veio a estatística oficial de desemprego, que aumentou em 2 milhões no último ano, já totalizando quase 15 milhões de pessoas. Dias depois, veio a público a sagrada estatística do PIB, que cresceu 1% na comparação com o mesmo período do ano passado, assinalando a retomada da normalidade para a acumulação do capital no país.

A funcionalidade do desemprego para o ciclo do capital não é novidade nenhuma. Nos países centrais ou aqui, a concorrência entre os trabalhadores por empregos precários sempre foi uma forma muito eficiente de quebrar a resistência da classe e baratear os “custos com trabalho”. Foi o que ocorreu no Brasil a partir de 2014, quando a recomposição do exército industrial de reserva se impôs como necessidade diante da queda nos lucros, desfazendo até mesmo as ocupações mal pagas e altamente degradantes das quais se gabavam os governos petistas.

O que torna a atual conjuntura mais grave é que esse processo se estende para além da fase descendente do ciclo, ocorrendo também durante a “retomada”. E isso não se deve – como poderiam argumentar os economistas – apenas à pandemia ou a uma defasagem entre produção e emprego, mas aos valores de uso que os capitalistas nacionais elegeram como essenciais. Impossibilitados de competir na “indústria de ponta”, a burguesia nacional dá as costas à ilusão desenvolvimentista do fomento ao mercado doméstico, especializando-se em setores que pouco empregam e muito exploram, como atesta o crescimento trimestral de 5,7% nas atividades agropecuária e de 3,2% na indústria extrativa.

Com a exportação na ordem do dia, os trabalhadores importam cada vez menos como consumidores. A fome e a miséria, por outro lado, cumprem seu papel histórico de ameaçar a parte da classe que ainda consegue se manter empregada, obrigando-a a aceitar jornadas de trabalho extenuantes, salários que mal chegam à metade do mês, adoecimentos laborais e tudo mais que, aos olhos dos capitalistas, possa ser chamado de essencial.

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