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Nota de repúdio à tentativa de expulsão do PSOL sofrida pela vereadora Sílvia Letícia

A ameaça de expulsão do PSOL contra a vereadora Sílvia Letícia, devido suas críticas à atual gestão de Edmílson Rodrigues (PSOL) à frente da Prefeitura de Belém, demonstra o rebaixamento político e moral a que o partido vem se submetendo. Edmílson, encabeçando uma Frente Ampla que incluí representantes da direita conservadora do estado, notórios inimigos da classe trabalhadora, se elegeu prefeito de Belém, e desde então, para o desapontamento de muitos, sua administração vem falhando com o povo trabalhador que depositou nele os seus votos e esperanças.

Mas a personalização na política é um erro grave que deve ser evitado. Não se trata apenas de denunciar o prefeito Edmílson. O PSOL como um todo está ciente dos vários problemas com a atual gestão de Belém, que são reflexos das inúmeras contradições que a coligação com a política direitista visando cargos e mandatos pode ocasionar. Mas as forças majoritárias do partido parecem não se importar, demonstrando uma enorme irresponsabilidade com a herança histórica da tradição socialista.

Esta herança, por exemplo, não responde a crítica com punição. Dentro da verdadeira práxis socialista, a crítica deve ser acolhida, levada ao debate aberto. E qualquer que seja o resultado desse debate, deve levar em consideração os interesses da classe trabalhadora, da totalidade do seu movimento, e não os interesses de um ou outro indivíduo, ou mesmo de um partido, estando ele à frente do governo de uma cidade ou não. O PSOL, com sua perseguição política à camarada Sílvia Letícia, está fazendo tudo para desonrar essa herança, ao mesmo tempo em que se desmoraliza enquanto força política de esquerda.

Sílvia Letícia é um importante quadro do partido, sendo, além de vereadora eleita pelo PSOL e liderança de uma tendência interna deste partido, a Revolução Socialista, também uma destacada liderança sindical à frente do SINTEPP – Sindicato da Educação Pública, na luta diária pelos direitos do funcionalismo público e por uma educação básica de qualidade. Que um quadro que já demonstrou seu valor na defesa dos trabalhadores seja atacado por exercer seu direito à crítica, nos marcos de uma ética socialista na qual ela atua, deveria ser um ato condenado por todo e qualquer militante de esquerda.

As críticas da vereadora à gestão de Edmílson se dirigem ao ajuste fiscal implementado pela prefeitura, ao não pagamento do piso do magistério e da enfermagem, ao não pagamento do salário-mínimo aos servidores municipais, contra os contratos temporários e em favor dos concursos públicos, pelo cumprimento da lei federal que estabelece incentivos adicionais para os Agentes Comunitários de Saúde e os Agentes de Combate às Endemias, por melhorias nas escolas municipais, por reformas nos espaços de assistência social e acolhimento para pessoas em situação de rua, crianças, adolescentes, mulheres e idosos vítimas de violência, contra a privatização da coleta de lixo, contra a nova lei dos transportes da cidade, que permite a demissão de cobradores de ônibus e libera o controle de fluxo de passageiros a empresários isentos de imposto, entre outras.

Tais denúncias resultaram no encaminhamento de um documento para a Comissão de Ética do partido, pedindo medidas disciplinares contra Silvia, acusando-a de infidelidade partidária, visto que ela, sendo vereadora pelo PSOL, supostamente não poderia criticar a administração de Edmilson Rodrigues, cuja corrente Primavera Socialista dentro do partido compõe o campo majoritário, e pode, portanto, muito bem usar essa maioria para efetivar a expulsão da vereadora, bem como de sua corrente, a Revolução Socialista.

A Centralidade do Trabalho vem por meio desta nota se posicionar em solidariedade e defesa da camarada Silvia Letícia, e em repúdio à perseguição empreendida pelas forças majoritárias do PSOL à vereadora. Perseguição esta que faz remontar àquela que originou o próprio PSOL, a partir da crítica de alguns parlamentares ao primeiro governo federal do PT que, expulsos, buscaram formar um partido com a missão de superar do partido anterior não apenas a conciliação de classes, mas também essas mesmas práticas persecutórias.

Se as correntes que formam o campo majoritário não fazem a crítica a uma administração municipal ocupada pelo PSOL cujo caráter de classe claramente aponta em favor da burguesia, mas, ao contrário, persegue quem, seguindo os princípios e o programa fundacional do partido, tem a coragem e a responsabilidade de fazer essa crítica, então o que se encontra em jogo é a própria razão de ser do PSOL, é a sua própria missão histórica de superar pela esquerda o modus operandi petista.

Sabíamos que a conquista da prefeitura de uma capital como Belém seria uma prova de fogo para um partido que tem demonstrado nos últimos anos um paulatino rebaixamento de suas bandeiras históricas. Vemos agora que, não apenas o PSOL não passou na prova, como também pretende enquadrar, pela via da perseguição, aqueles militantes e correntes que seguem defendendo uma linha socialista para o partido.

E aqui cabe a pergunta: se é para terminar seguindo a linha petista da conciliação de classes e da perseguição interna dos militantes que a criticam e denunciam abertamente, para que surgiu o PSOL?

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