No último dia 11 de julho, cerca de 400 cubanos foram às ruas na localidade de San Antonio de los Baños, na província de Artemisa, próxima da capital Havana. Os protestos se espalharam por outras 12 cidades e mobilizaram cerca de 2000 pessoas. A marcha foi a maior dos últimos 27 anos, quando Cuba ainda vivia o período especial, logo após a dissolução da União Soviética.
Empobrecida por suas próprias condições materiais e o bloqueio criminoso impetrado pelos Estados Unidos, a economia cubana é fortemente dependente das da exportação de serviços médicos, fumo, açúcar e turismo, além das remessas de imigrantes. A pandemia representou, neste sentido, um duro golpe na reprodução da vida no país: as restrições às viagens internacionais, uma péssima safra de açúcar e a drástica diminuição no volume de comércio global fez com que o PIB cubano sofresse retração de quase 11% em 2020.
A principal marca dos protestos deste último domingo é a heterogeneidade. Impulsionados pela escassez e o encarecimento no preço dos alimentos, as dificuldades no acesso a insumos e equipamentos médicos e enfrentando racionamento de energia, os primeiros manifestantes foram às ruas motivados por pautas legítimas da classe trabalhadora cubana. Por outro lado, os EUA, que já tentaram das mais diversas formas derrubar a revolução cubana, têm buscado de forma direta e indireta converter os protestos em manifestações que apelam por “democracia e liberdade”, repetindo a velha fórmula imperialista de agitação política e ingerência contrarrevolucionária.
Ainda que as marchas em defesa da Revolução, convocadas para esta segunda-feira (12 de julho), tenham sido mais volumosas que os protestos do dia anterior, é preciso ter uma avaliação muito criteriosa das manifestações. Desde as reformas constitucionais e econômicas recentes, Cuba tem se demonstrado perigosamente mais permissiva à entrada de capital estrangeiro, abrindo espaços para corromper os ideais revolucionários e insuflar manifestações com caráter insurgente e extração pequeno-burguesa. De outro lado, desde 2020, a deterioração acelerada das condições de vida do povo cubano tem despertado a crítica séria e consequente, canalizada por manifestações políticas e sociais que não almejam o fim da Revolução, mas se pautam precisamente pelo desejo de seu avanço.
Caso o governo cubano não esteja atento a estas demandas legítimas de seu povo e de seus quadros revolucionários, tratando como traidores da pátria todo e qualquer crítico do regime, estará, aí sim, abrindo as portas de Cuba à contrarrevolução e ao imperialismo.